No mês de março, profissionais da saúde da Funfarme realizaram uma visita técnica ao Hospital Materno Infantil Presidente Vargas - CRAI em Porto Alegre, instituição referência no atendimento a crianças e adolescentes vítimas de violência, para a troca e compartilhamento de informações, atualização de protocolos e capacitação na área.
“Foram momentos de aprendizado, trocas, compartilhamentos, e diante disso, muitas ideias para que possamos traçar novas ações e assistir essas vítimas de violência sexual, de forma mais humanizada e efetiva”, diz a psicóloga e coordenadora do Serviço de Psicologia, Carla Zanin.
Fizeram parte dessa imersão em atendimento às vítimas de violência, Drª Delzi Vigna (médica infectologista e idealizadora do projeto acolher), os psicólogos, Carla Rodrigues Zanin, Débora Rodrigues Grigolette, Eliane Tiemi Miyazaki e Lucas Teixeira, e a assistente social Gabriela de Araújo.
Violência no país
No Brasil, a violência é um problema de saúde pública que atinge a população em larga escala, no entanto, quando se trata das crianças a situação é ainda mais preocupante. Muitos são os dramas sociais que afligem a vida e a trajetória daqueles mais frágeis e vulneráveis da nossa sociedade.
Segundo os dados da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (ABRASCO, 2019) a violência mais atendida nas unidades de saúde, contra crianças e adolescentes de 0 a 13 anos, é violência sexual, que ocorre na própria casa da vítima em 58% dos casos. Entre os jovens, aqueles com 10 a 19 anos, a violência sexual é igualmente a mais sofrida, na maioria dos casos contra meninas. Os agressores são na maior parte os próprios pais, padrastos, familiares, namorados ou pessoas conhecidas das vítimas.
Dados mundiais se assemelham, destacando que 90% das adolescentes de diversas nacionalidades, vítimas de violência sexual, denunciam que o autor da primeira violação era alguém próximo ou conhecido. Infelizmente, apenas 1% delas procura ajuda profissional após o estupro pelo medo da rejeição social e familiar, e pelas ameaças que sofrem do agressor.
Projeto Acolher
Na região de São José do Rio Preto, os números de violência infanto-juvenil são assustadores. De acordo com o Relatório da Vigilância Interpessoal e Autoprovocada da Secretaria Municipal de Saúde de São José do Rio Preto, no período de 2015 a agosto 2020, foram notificados 4.200 casos de violência contra crianças e adolescentes, na faixa etária de 0 a 19 anos, sendo 525 casos até agosto de 2020. Acredita-se que esses números tenham aumentado de forma significativa ao longo desses anos de pandemia.
É visto que estamos vivendo um aumento nos casos de violência infanto-juvenil em nossa região e pensando no enfrentamento dessas sequelas pós-pandemia, o Complexo Funfarme, que desde 2001 luta constantemente para ofertar atendimento especializado e qualidade de vida para crianças, adolescentes e mulheres vítimas de violência sexual, idealizou o Projeto Acolher II que tem como proposta ampliar o atendimento desse público fragilizado, atendendo não somente vítimas de violência sexual, mas também crianças e adolescentes vítimas de negligência, abandono, violência física e/ou psicológica, e as que se encontram em adoecimento emocional em virtude de terem os seus direitos violados.
Por isso, o Projeto Acolher atua no enfrentamento das situações de violência (suspeita ou confirmada), ampliando o atendimento interdisciplinar, buscando a quebra desse ciclo de violência, minimizando o impacto para estes pacientes que estão em fase de desenvolvimento. Quando temos a oportunidade de atendimento de uma criança com suspeita de abuso físico ou sexual na nossa instituição, podemos oferecer um atendimento integral, com suporte psicológico e investigação de outras lesões associadas aos maus tratos, que podem ser diagnosticadas em uma única internação.
A assistência integral a essas vítimas é disponibilizada 24 horas no Hospital da Criança e Maternidade (HCM). Os profissionais da saúde atendem nos dias e horários úteis e as noites, finais de semana e feriados, a assistência fica a cargo do plantão médico, da enfermagem, da psicologia e de assistência social contemplando as lacunas de horários e absorvendo todas essas demandas. As ações têm como objetivo o atendimento integral às vítimas e suas famílias, e o encaminhamento para as intervenções necessárias para os órgãos de proteção, responsabilização e atendimento médico, psicológico e social no ambulatório do projeto acolher.